O escândalo que implicou a Volkswagen num estratagema de manipulação das emissões de milhões de carros foi o princípio do fim. 12 fabricantes já anunciaram o fim da produção de motores a gasóleo e as normas estão cada vez mais apertadas.
Milhões de clientes foram enganados, altos dirigentes foram detidos e multas bilionárias foram aplicadas ao Grupo Volkswagen, na sequência do escândalo de 2015 que ficou conhecido como o Dieselgate. A fabricante foi acusada de adulterar equipamentos para esconder as emissões de óxido de nitrogénio dos seus carros. Foi um dos momentos decisivos do início do fim dos motores a diesel. A própria Comissão Europeia já revelou que os “carros a diesel estão acabados”.
Na verdade, Elzbieta Bienkowska, a comissária europeia polaca com as pastas do Mercado Interno, Indústria, Empreendedorismo e PME, já o tinha confirmado numa entrevista à “Bloomberg“. A comissária entende ainda que a sociedade “já se apercebeu de que nunca haverá carros a gasóleo completamente limpos – isto é, sem emissões de NOx [óxido de nitrogénio]”.
Na União Europeia (UE), onde cerca de metade dos automóveis têm motores a diesel, os governos aprovaram, em maio de 2018, alterações às regras para autorização dos modelos de automóveis. Aliás, o órgão executivo da UE está mesmo a estimular o desenvolvimento de baterias para automóveis elétricos, incluindo medidas de financiamento. Depois da marca alemã ter gasto milhares de milhões de euros em multas, processos judiciais e indemnizações como consequência do Dieselgate, recebeu agora de 40 mil milhões de euros em contratos para produzir as novas baterias. A BMW e Daimler também já estão na corrida.
Não são as qualidades das motorizações que estão em causa, mas sim a sua capacidade de cumprirem, no futuro, as normas ambientais a custos controlados. Ficaria mais caro adaptar a tecnologia diesel atual ao cumprimento das normas anti-poluição. Os motores são mais complexos e o valor para os desenvolver e produzir é incomportável.
A Alfa Romeo, a Toyota ou a Nissan já anunciaram o adeus à produção de motores Diesel, mas ao todo são 12 já confirmadas: Fiat, Jeep, Maserati, Porsche, Lexus, Toyota, Suzuki, Mitsubishi e a Bentley.
Normas anti-poluição e prazos realistas
O custo dos motores Diesel face aos motor Otto (a gasolina) dispararam e continuarão a aumentar ao ponto de se tornar injustificável a escolha de um diesel em detrimento de um a gasolina. As vendas desse tipo de veículos em Portugal já refletem a situação e até abril caíram 7,7%.
As normas mais apertadas obrigam a grandes investimentos no desenvolvimento de tecnologias para controlar as emissões e, do lado dos consumidores, isso traduz-se numa fatura mais elevada no momento da compra.
Já existem restrições à circulação de carros a gasóleo em muitas das grandes cidades da Europa. O fenómeno “smog” – derivado da junção das palavras smock (fumo) e fog (nevoeiro) – já é bem conhecido e relacionado com a capital britânica. Agora, dada a pressão de estudos recentes que referem urgência quanto à necessidade de atuar, já outras cidades como Atenas ou Cidade do México decidiram banir o diesel a partir de 2025.
Londres foi a primeira a atuar ao cobrar uma taxa de quase 35€ para que os veículos entrem no centro da cidade, a entrar em vigor a partir de abril de 2019. Copenhaga, na Dinamarca, pretende proibir a circulação de carros a gasóleo a partir de 2019. Madrid vai restringir o acesso destes veículos numa boa parte da área central até 2020, e Paris quer banir todos os veículos poluentes até 2030 e reservar algumas ruas para a circulação de automóveis elétricos.
A 1 de setembro de 2019 entrará em vigor uma nova norma para todos os automóveis novos, a RDE (Real Driving Conditions), que pretende reproduzir de forma mais fiel as emissões poluentes em condução real, segundo se pode ler no comunicado da Comissão Europeia (CE).
O órgão executivo já tem o poder de multar os fabricantes em mais de 30 mil euros por cada carro defeituoso e de ordenar a recolha dos veículos poluentes – medidas que vão contribuir para uma maior centralização da supervisão da indústria automóvel. Desde 2017 que o limite de emissões de NOx é de 168 miligramas e, a partir de 2020, o limite será reduzido para 120 miligramas.
Os NOx e as partículas (as poeiras tóxicas expelidas em forma de fumo) são prejudiciais para quem os respira e para a qualidade do ar – e os motores a diesel emitem até quatro vezes mais agentes nocivos do que os níveis de CO2 dos veículos a gasolina encontrados no ar e que fazem dele o vilão das alterações climáticas. Por outro lado, várias associações ambientais já advertiram que os níveis de CO2 estão a subir devido ao grande aumento das vendas de carros com motorização a gasolina.
Em 2017, Tony Seba, um economista da Universidade de Stanford, nos EUA, escreveu um relatório onde afirma que dentro de aproximadamente uma década, não haverá um único automóvel com motor a gasolina ou a diesel em circulação e um número muito reduzido de pessoas será proprietária do seu próprio carro. Antecipa ainda que serão implantadas infraestruturas necessárias para carros autónomos que não necessitem da intervenção de um condutor.
O futuro não parece risonho para a indústria automóvel, mas, por enquanto, a única coisa que parece certa em relação aos anos que se avizinham é que vem aí o fim dos carros a gasóleo.
Retirado de 4men