Tem mais de 60 anos de atividade e é uma das empresas mais sólidas do mercado dos transportes. Manter uma estrutura de custos reduzida em áreas como a manutenção ou o número de veículos que compõem a frota são alguns do segredos do Grupo Luís Simões.
Com um número elevado de veículos e colaboradores fixos, todos os cêntimos contam para garantir o sucesso de uma das maiores empresas nacionais do setor dos transportes. A manutenção e aquisição de veículos são áreas determinantes para o sucesso de qualquer agente neste mercado, exigindo uma estratégia de custos controlada de forma a fomentar a rentabilidade a longo prazo. Num negócio em que “as margens são esmagadíssimas” por decorrerem de um “setor extremamente atomizado” (só em Portugal existem mais de 110 mil empresas), Dalila Tavares, Diretora Ibérica de Produção de Transportes do Grupo Luís Simões, afirma que a estratégia da empresa tem passado por “diversificar a sua esfera de negócio” e por “acrescentar valor” ao cliente: “Passamos da fase de custo por quilómetro para a gestão do produto, em que asseguramos a distribuição e assumimos o controlo de todo o processo, da entrada à entrega final. O cliente diz-nos apenas o número de paletes e deixa de se preocupar com o resto.”
EXEMPLO DE GESTÃO
A responsável adianta que ter o menor número possível de custos fixos foi uma das políticas definidas pela empresa “há mais de 12 anos”, aplicando-se, igualmente, à forma como é negociada a manutenção e aquisição de veículos. “Fazemos outsourcing da manutenção preventiva precisamente porque a nossa opção foi tê-la como um custo variável e não ter essa estrutura dentro da nossa organização”, refere Dalila Tavares.
Outro exemplo desta estratégia diz respeito ao número de veículos que pertencem à empresa e às opções tomadas quanto às marcas, tipo de veículos (maioritariamente de tração) e fornecedores. “Ao contrário de outros operadores, 99,5% dos nossos veículos são apenas de uma marca. Recorremos à subcontratação e, quando se vêem veículos de outros fabricantes, estes efetivamente trabalham connosco, mas não são nossa propriedade”.
A DAF foi a marca escolhida pela empresa ao nível dos tratores e a parceria entre ambas envolve também a manutenção dos veículos: “Optámos por fazer sempre a manutenção com a entidade a quem adquirimos o veículo”, explica Dalila Tavares. Já nos semireboques, a decisão recaiu internamente pela Reta – uma das empresas do Grupo que é, simultaneamente, especialista nesta área.
MANUTENÇÃO
Controlar exaustivamente os intervalos da manutenção é uma das obsessões da Luís Simões, explicada pelo que não se fatura de cada vez que um veículo se encontra parado para reparação. “Quando estão imobilizados não estão a faturar e isso não é bom para nós”, explica Dalila Tavares, referindo que a preocupação da empresa é garantir que cada veículo não esteja parado mais de dois dias úteis por ano para efeitos de manutenção. Uma operação logística difícil, tendo em conta que a frota é composta por “cerca de 1800 veículos”. Destes, “40% pertencem ao Grupo e os demais a empresas que trabalham maioritariamente em regime de exclusividade connosco”, adianta.
Além da opção por uma única marca (apenas os veículos de 3,5 toneladas não são da DAF, uma vez que não existem na gama), a Luís Simões definiu também uma frota reduzida quanto ao tipo de modelos ao seu dispor – uma estratégia pensada para gerir e controlar os custos associados à manutenção. A estrutura é composta por camiões de 19 e de 12 toneladas, e tratores de roda de grandes dimensões. Dalila Tavares explica que esta política faz com que a “frequência dos intervalos de manutenção e a necessidade de peças” sejam muito semelhantes entre todos os veículos, “melhorando não só a relação com o fornecedor, como a previsão que ele pode fazer das necessidades da frota”. Por outro lado, traduz-se numa equipa de manutenção muito pequena. “Apenas seis pessoas respondem ao total de tratores e de semi-reboques”, adianta.
RISCO ELEVADO
Para veículos tratores, os intervalos de manutenção variam entre os 60 mil e os 70 mil km, enquanto os veículos de 19 a 12 toneladas efetuam reparações a cada 30 mil km. “Para reduzir os custos associados, procuramos que estas operações sejam feitas ao fim-desemana, uma vez que este é um período em que a empresa normalmente não realiza viagens”, diz a Diretora Ibérica de Produção de Transportes. A integração de caixas automáticas foi outra das decisões tomadas para reduzir a fatura do consumo e o desgaste do material, bem como o outsourcing dos pneus. “Mais uma vez, a nossa estratégia foi variabilizar os custos associados aos veículos para que, quando não exista produção, não tenhamos esse custo fixo”.
No total, pneus e manutenção representam 5% dos custos totais da empresa, enquanto 40% recai sobre os combustíveis. Nos pneus, o Grupo Luís Simões optou novamente por trabalhar com uma única marca, a Michelin, e em parceria com dois fornecedores: a Reta, em Portugal, e a EuroMaster, em Espanha. Este método contratual faz com que os custos associados aos pneus sejam em função dos quilómetros percorridos, uma opção de risco elevado para o lado do fornecedor caso não exista uma relação de confiança mútua entre as empresas. “No limite, se algum dia percorrêssemos zero quilómetros, não lhes iríamos pagar nenhum valor.”
TRÊS PERGUNTAS A DALILA TAVARES, DIRETORA IBÉRICA DE PRODUÇÃO DE TRANSPORTES DO GRUPO LUÍS SIMÕES
Com um peso de 40% na vossa estrutura, como limitam os custos associados ao combustível?
Temos uma política de trabalhar com vários fornecedores e não temos acordos de exclusividade. De acordo com os valores que nos vão chegando selecionamos um parceiro para um determinado período de tempo (uma a duas semanas), dando em seguida instruções à frota sobre os locais de abastecimento. Temos também bombas de combustível internas e optámos ainda por só consumir em Portugal para a frota que circula no País. A frota internacional não abastece cá.
O que procuram nos vossos motoristas? A formação é importante na redução do consumo?
Apostamos acima de tudo nas competências. A experiência per si não é decisiva para a contratação. Temos noção de que os nossos condutores, além de serem a nossa cara para o mercado e para os clientes, são o fator decisivo para o sucesso da nossa atividade, para nós e para qualquer transportadora. Por um lado, são as pessoas que andam com os camiões e com as mercadorias. Pot outro, aqueles que têm o maior impacto nos custos diretos, já que o combustível depende do perfil de condução, tal como os custos associados a sinistros e manutenção ou o garantir que chegamos a horas aos clientes. Há uma fatia brutal da nossa estrutura de custos que está associada ao dia-a-dia do condutor, por isso insistimos muito na educação desta classe profissional, até porque é a mais representativa da nossa organização.
Que aspetos abordam na formação e como se certificam de que ela está a ser bem aplicada?
Investimos muito no recrutamento e na formação, até porque temos muitos procedimentos internos e há várias regras a cumprir aqui. Apostamos ainda num sistema informático que nos ajuda a definir o que é o perfil ótimo do condutor e a fazer um ajustamento contínuo, pois também temos computadores ligados aos veículos a monitorizar tudo o que se passa a bordo. Diariamente são avaliados parâmetros como o consumo de combustível, os locais de portagens ou se houve alguém que não respeitou o local de abastecimento autorizado ou qualquer outro comportamento desviante. Se detetarmos alguma anormalidade, entramos imediatamente em contacto com o colaborador para discutirmos essa situação com ele. Investimos também num sistema de prémios mensais que estão associados aos indicadores que identificamos para a função de condutor e que os premeia de acordo com as suas prestações.
Fonte: turbooficina